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AFIFE DIGIT@L jornal on-line de Afife

NOTICIAS LOCAIS E REGIONAIS ACTUALIZADAS SEMANALMENTE AOS SÁBADOS ÀS 21h30 ........ e-mail: afifenoticias@sapo.pt

 

PEDRO HOMEM DE MELLO, O POETA                 ,  O   FOLCLORISTA, MORREU HÁ 26 ANOS.             

 

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 Hoje o poeta está esquecido, Cabanas já não é mais o local de inspiração dos poetas, nem tão pouco o terreiro que servia para se dançar o folclore a 6 de Setembro, não tem hoje qualquer significado, assim como Cabanas também deixou de ser local onde finalizava o Clamor de Cabanas em que o Augusto de Cabanas servia o vinho da colheita aos participantes. Agora é só lembranças de alguns e que se vão perdendo conforme as pessoas vão desaparecendo, levando consigo muitas das histórias vividas em Cabanas e do poeta.

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 Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, o poeta nascido no Porto, a 6 de Setembro de 1904,  mas que passou parte da sua vida em Afife, mais propriamente em Cabanas, local em que se inspirava para escrever as suas poesias, faleceu no Porto a 5 de Março de 1984 e por vontade expressa, veio a sepultar em campa rasa no cemitério de Afife, onde à entrada principais em ambos os lados se podem ver azulejos onde esta patenteada a sua  poesia e uma vontade própria expressa.

                         

O seu funeral, coincidiu com o domingo Carnaval, numa tarde de sol em que  alguns ranchos de folclore se fizeram representar com os seus trajes, assim como o rancho de Afife, bem como uma multidão que se juntou, vinda dos mais variados sitios, Amália Rodrigues, deslocou-se desde Lisboa e acompanhou o poeta até à sua sepultura final.     

     

 O poeta contínua esquecido como todos os outros, em Afife, não foi contada qualquer iniciativa a partir das comemorações do centenário do seu nascimento, que fizesse reavivar a memória do poeta que escreveu da gente da nossa terra, divulgou o nosso folclore.  

                           

Pedro Homem de Mello, estudou direito em Coimbra, mas acabaria por se licenciar em Lisboa no ano de 1926. Exerceu advocacia, foi delegado do Procurador da Republica e posteriormente foi professor de Português nas escolas, Mouzinho da Silveira e Infante D. Henrique, em que na primeira desempenhou cargos de relevo. Foi estudioso e divulgador do Folclore Português, foi criador de vários ranchos de folclore no Minho e foi apresentador de um programa de folclore na RTP e no qual levou o então Rancho de Afife a um desses programas, em que o povo da freguesia nos anos 60 e 70, numa altura em que ter televisão era um luxo, enchia a Casa do Povo, só para assistir no pequeno ecrã, ao referido programa em que Afife e o seu folclore serviam de tema central.. Pedro Homem de Melo, era habitual frequentador da praia de Afife, onde se deslocava de bicicleta desde Cabanas e mais tarde fazia o percurso a pé. Segundo nos chegou a confidência o senhor Joaquim Carvalho, proprietário do restaurante da praia, o poeta ia sempre tomar o seu café, numa mesa mais chegada à janela com a vista sobre o mar, muitas vezes escrevia ali alguns dos seus poemas e um dia fez um especialmente dedicado ao senhor Carvalho que este quando tinha o estabelecimento aberto, fazia questão de o ter encaixilhado em local de destaque.                             

 

 Liberdade, escrito em 1950, arquivo da biblioteca Nacional de Portugal.

Dizia-nos ainda que  escolhia o bar da praia para vender os seus livros e mesmo para fazer a sua apresentação, como aconteceu no "Fandangueiro" ou assim se pensa já que memoria falha por vezes, mas adianta-nos que terá sido mesmo este, que as pessoas de Afife e não só num domingo à tarde cheio de sol, encheram o bar da praia para comprarem o livro que o poeta fez questão de autografar, com dedicatória. Dizia-nos então o senhor Carvalho na altura em que o entrevistamos para um programa de rádio, que quando começou a fazer as festas de passagem de ano, o poeta, aparecia sempre e tinha uma característica especial, é que quando chegava à meia-noite, descia à praia e ia dar um mergulho, fossem frio ou calor, mesmo em noites de chuva, essa foi prática constante durante muitos anos. Como homem do folclore, sempre que podia, não perdia uma festa popular onde se dançava e cantava aquilo que o povo tinha na alma, era frequentador do S. João de Arga, não perdia as exibições das concertinas e mais tarde quando apareceram os altifalantes, não era apologista que estes abafassem os populares instrumentos de fole e Camilo Ramos relata uma situação vivida no alto da serra pelo poeta, precisamente num arraial do S. João de Arga, em que os altifalantes se misturavam com o toque das concertinas. Abeirou-se do homem da amplificação sonora e pediu para  parar com a música para que o povo pudesse ouvir as concertinas, mas como não conseguiu ver esse intento conseguido, perguntou, quanto ele queria para calar a amplificação. Então o poeta pagou na altura, 10 contos, o que era  um dinheirão na altura e assim sem amplificação sonora a noite foi para as concertinas e os cantares do povo.

 

 

A Ofélia das Cachenas, numa altura em que a fomos entrevistar para programa radiofónico, falou-nos de Pedro, como ela o aplicadas e recordou nessa altura sentada nas escadas de pedra da sua casa na Perre, que as festas de Cabanas realizadas em Setembro eram sempre muito animadas, eram sempre no aniversário do poeta e vinham gentes de todo o lado, para dançar e cantar no terreiro. Era ela que se incumbia de escolher e organizar as danças, onde não faltava entre outros o Cassio da João Enes, com quem fazia par e a do Calor de Carreço, que era uma grande bailadora do folclore e dançavam a gota de Afife que dizia ser uma dança com 64 marcas, que mais tarde se viria a chamar Gota do Calor e explicava porque. Acontece que essa era uma dança longa e que se despendia de muito esforço físico, por tal as pessoas chegavam ao fim cansadas e a suar. Então essa senhora de Carreço que era conhecida no meio dançarino  pela "Do Calor" porque era um pouco bem composta e sempre que terminava a dança logo se sentava e dizia vezes sem conta "Ai que Calor, Ai Que Calor", como era exímia dançarina desta gota e sempre que o poeta lhe perguntava, o que é que iam dançar a seguir, ela dizia a gota do calor e assim se passou a designar de Gota do Calor, tal como nos dias de hoje acontece .

 

Afife  ainda lhe prestou uma última homenagem em vida, aquando da festa da poesia,  em que  o poeta apareceu no palco do  Casino, mais que esgotado,  onde não cabia sequer mais uma agulha, aqui apareceu já um pouco debilitado, tendo sido recebido por José Carlos Ari dos Santos, Natália Correia e outros poetas de destaque nacional, levantando em peso a multidão que enchia a casa, para aplaudir o poeta.

A última homenagem, aconteceu por volta do centenário do seu nascimento, onde durante um ano o Casino Afifense e uma comissão eleita para tal, realizou uma serie de actividades evocativas do poeta, tendo  sido nessa altura colocado o monumento aos poetas, uma escultura do artista José Rodrigues, no Jardim de Empostalha, que mereceu um arranjo especial. 

                                       

Este programa contou com  o lançamento de um livro com trabalhos do poeta e mereceu destaque em programas televisivos, nos quais participaram em directo alguns dos elementos da comissão, bem como a televisão chegou a fazer um directo de Cabanas e do Casino Afifense.

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Na altura foi criado pelos CTT, um carimbo lembrando o poeta, assim como um postal, onde dois pares dançam o folclore de Afife.

 

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O poeta está sepultado como era sua vontade em campa rasa, no cemitério de Afife, há 26 anos, mas está esquecido, tal como a sua obra

 

 

 

 

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A entrada da antiga mata de Cabanas, onde se encontram os poemas de Pedro Homem de Mello, "Eternidade e Ascenção" datam de 1939 e estão prestes a desaparecerem, dado a degradação dos muros que ameaçam já ruir.

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13 de Março de 2010

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