Convento de Cabanas - Afife é um importante documento Histórico
No distrito de Viana do Castelo, muita gente já ouviu falar do Convento de Cabanas, mas pouca o conhece.
De facto este convento está envolvido por uma frondosa arborização, no Lugar de Cabanas, freguesia de Afife, na margem esquerda do rio com o mesmo nome, no concelho de Viana do Castelo.
Como o actual dono faleceu, e tendo o convento sido colocado à venda na Internet, consideramos que este devia ser altura do Estado o adquirir.
Sabendo nós que toda a história de Afife e mesmo da região, se prende com aquele convento, não o comprar será um desrespeito à nossa história e uma ingratidão não só com o povo de Afife, mas toda a região.
Não podemos esquecer que este convento foi edificado, segundo vários historiadores, em 570 por S. Martinho de Dume, o que nos remete para 600 anos, antes da fundação da Nacionalidade, a qual só foi reconhecida, como país independente, pelo papa Alexandre III em 1179.
Por aqui passaram os Árabes quando invadiram a península em 711, tendo destruído o convento em 746, sendo pouco tempo depois reedificado.
No entanto só no reinado de D. Sancho I definiram os seus limites (1187).
Segundo as inquirições, o mosteiro de Cabanas em 1258 era de Padroado Real;
Em 1382 o Mosteiro passou para a ordem de S. Bento.
O complexo conventual foi reformulado no inicio do século XVII , conferindo-lhe o aspecto exterior actual.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, a propriedade e edifício passou para a posse da Fazenda Nacional, sendo vendido em hasta pública ao Gen. Luís do Rego, Visconde do Geraz de Lima. Depois de uns anos nessa família em 1897, foi vendido ao Conselheiro Dr. Adolfo da Cunha Pimentel Homem de Vasconcelos, antigo Governador Civil do Porto, e esposa D. Maria Cardina da Fonseca e Gouveia da Cunha Lima Pimentel, os quais fizeram importantes obras de restauro e construção de muros.
Em 1984 – Por despacho do Secretário de Estado da Cultura foi determinada a classificação do Convento como Imóvel de Interesse Público, situação que só aconteceu em 1997, quando o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) o classificou de Imóvel de Interesse Público, através do Decreto n.º 67/97, DR n.º 301, de 31-12-1997.
Este Convento embora fosse classificado pelo IPPAR, como imóvel de interesse público, de público nunca teve nada, pois não havia permissão a visitas, o que se compreende pois o imóvel era pertença de particulares.
Era bom que as entidades públicas se lembrassem deste convento, quer como um dos documentos históricos mais antigos, do concelho de Viana do Castelo, mas também como local que serviu de residência e fonte de inspiração a Pedro Homem de Melo. Tendo para aqui confluído toda uma elite Cultural, que era visita da casa do poeta.
Esta localização, e a sombra das tílias do terreiro de Cabanas deu origem à inspiração quer do Poeta Pedro Homem de Melo, como de outros que o visitavam, estando alguns desses poemas gravados em painéis de azulejo que se encontram dispersos por esse local.
A aquisição deste imóvel, por parte do Estado, será sem dúvida uma homenagem ao poeta Pedro Homem de Melo, e ao povo que o acolheu. Não podemos esquecer que alguns dos bonitos poemas, deste poeta, se referem ou a Viana do Castelo ou a Afife, como por exemplo o poema “povo que lavas no rio”, interpretado divinalmente num fado, por Amália Rodrigues, imortalizando este povo e a própria freguesia de Afife. É pois importante dizer que este Convento também é um documento “material” de um património imaterial da humanidade-fado (que como sabem funciona como matriz cultural de um povo), recentemente instituído pela UNESCO.
Embora, a natureza já tenha favorecido esta freguesia, dotando-a com uma corda litoral de rara beleza, com praias iodadas, e com uma comunidade que se tem esforçado para preservar uma extensão de campos agrícolas, denominados de “Veiga”, seria de todo o interesse quer para a freguesia quer para a região, adquirir o Convento de Cabanas para enriquecimento do Turismo cultural.
Além disso fazer daquele espaço um museu, ou um centro de interpretação de um documento que atravessou toda a nossa historia, só nos pode enriquecer culturalmente.
A aquisição deste Convento pela Câmara ou outra entidade governamental, é uma obrigação histórica, a fim de proteger a nossa identidade cultural, como se tratasse de um escudo contra a globalização. Não podemos esquecer, que para protegermos a nossa cultura, embora possamos pensar globalmente, devemos actuar localmente.
Claro que isto é para quem gosta de Portugal, e não de se subalternizar.
Joaquim Vasconcelos - 6-3-2013